quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

domingo, 5 de dezembro de 2010

sábado, 24 de abril de 2010

domingo, 18 de abril de 2010

RESPIRAÇÃO

Momento de não saber coisa alguma...
Não compreender , não voar.
Momento de não explicar.
Quero um momento desses: egoísta e rei.

Onde nele não seja imprescindível saber das horas,
nem dos átomos, nem das luas de Saturno, nem tão pouco das virose do mundo contemporâneo.

Nada, nenhuma explicação.
Somente o segundo parado em mim.

Quero esse momento nu no mundo.

Onde tudo se sinta e nada deseje nem ao menos uma vírgula de argumentação!

Nada.

Somente o segundo...



Vivo de explicar e de dar sentido as coisas e aos caminhos e aos mundos que me habitam e giram em mim e levantam em mim muros, palácios, favelas , vielas e becos. Sarjetas imundas e jardins cinzentos...e algo mais purificado e contente como aquele rio que outrora descrevi na carta que a mim enviei.


VIVO DE PROCURAR O MELHOR PONTO AO LADO DE CADA PRONOME.

Vivo de exclamar. De interrogar-me só e inquieta.

Vivo de querer entender tudo tão profundamente.

Basta!!!

Quero aquele segundo oco.


Quero um nada que de tudo descarte explicação.


Respirar.
Só respirar...
Respirar com todo o meu coração...

Respirar a permissão...

de poder sentir sem ter que explicar tanto o que me devora a calma e a paz de tudo.

Sentir...

o ar em mim...

num movimento involuntário tal qual o amor que sinto...involuntário …

existe e acontece em mim e me faz... e refaz-se.


Mais ar...


Mais Silêncio..

Menos tudo que queira me sugar os argumentos de sentir e ter que ter porque tantas coisas que nem sei por qual razão me habitam.


Um segundo...


Um sem tudo

Um sem ter que pesar o mundo...

Um sem tanta racionalização...


Um menos matemático e mais febril



Um desejar-se apenas existir e fim.

Um apenas...

Um ar que me rasgue a razão...



Uma flor...

Uma estrela...

Um caminho...

Um ser... ser e sem ter que ser um ser de tanta profunda explicação.......


Ah...como meu coração se desalinha tanto....
Ah... como retornar desse mundo tão falido?

Ah … como resgatar meu sonho?

Como ter a calma que é preciso para saber caminhar nesse mundo desconhecido?

Como trilhar onde tudo grita?

Onde não há aquele segundo nem mesmo por um segundo?

Como inventar um novo relógio de pulso que pulse o meu pulso e no meu pulsar redescubra o meu caminho escorrido no meu sangue?

Como?

Um segundo de segundo da fração da fração que da razão escapuliu...eu quero esse mínimo de tempo, pra quem sabe, ser de novo o que eu sei ser!


Janete Flores 2009 /12 de setembro.

Anjos

Eu queria dizer-te …

Mas imóvel, fogem-me as formas e em mim todos os átomos sentem tudo....
Vê que lá fora há sol e gente...
E essa pequena que dança na calçada foi eu quem pariu...
E ela sente medo e dor... e não dança quando percebe a falta da flor...
Ela se desalinha e tem seu porquê ...é que ela não gosta de ver o lixo transmudar-se em um pote de ouro...
Diz-me ela: não há o que doar que não pelo ralo? E eu me calo...
Pede ela,ao Deus que construiu, que invente um lugar mais claro que o meio da praça por onde agora lhe vem de passeio a mulher que na cacunda parece não poder mais sustentar a cria que ainda tem à boca um bico rosa.
... se ele fosse branco, talvez tivessem elas mais paz...
Segue aquela mulher que por certo deve ser a mãe, vê-se pelo esforço que faz para seguir com seus sapatos maiores do que os seus pés tão do mundo.
Seria ela portadora de tal amor capaz de andar metros infinitos com seus cabelos ao vento e sua criança a lhe pesar, agora nas ancas?...
Ela segue...
Está protegida pelos olhos desse sol que lhe brilha...pelo salto de seus sapatos pretos e grandes...pelo nosso olhar que lhes seguiu por breves raios...agora nós seguimos...parece que é assim que deve ser feito...olhar e seguir...seguir acompanhando o passo e o barulho dos seus sapatos na areia ...torcendo para que eles continuem a lhe calçar a alma e os pés. E eu torço que não lhe falte o sol...
E eu torço para ter dela um dia tal coragem...
Vê que já não é meio-dia?
Ao meu lado a pequena segue a me perguntar coisas do mundo...
Quanto é cem mais cem?
De onde vem as sementes?
Por que não existe sapatos do tamanho dos pés daquela?
Por que comer lixo?
Ela tem tantas perguntas … e parece não se acostumar em não fazê-las!

Janete Flores